Obalúwàiyé

 

Obalúwayé, contração de Oba-'lu'aiyé (Rei que é o senhor da terra), é chamado também de Olúwa Aiyé (Senhor da terra) e Olódè (Senhor do aberto): por ser o Senhor da terra, pede-se licença a ele para usá-la. É também chamado Ilè-gbóná (Terra Quente), Bàbá (Pai) e Sòpònná (Varíola). Senhor da varíola e de todas as enfermidades, Obaluaiê inspira terror e respeito por punir os faltosos com doenças, mas é associado também à cura, à justiça e à paz social. Sua energia é manipulada para agradecer a terra pelo que esta oferece às pessoas. Seu poder é usado na cura de todas as enfermidades, particularmente as de pele.

Este orixá proíbe a mentira, o envenenamento e a magia negra. Usa roupa vermelha e viaja quando o sol está bem quente: por isso as pessoas são desaconselhadas a usar roupa vermelha e a andar sob o sol para não lhe causar aborrecimento. Cuidados especiais devem ser tomados durante a estação das secas, de modo a não se adotar nenhum procedimento que possa ofendê-lo; isto é compreensível porque a varíola é mais frequente e se espalha mais facilmente durante esse período. Sua permissão é solicitada em festas através de expressões como Deixe-me obter a permissão do senhor da terra: se ele nos permitirá dançar. Sua hospitalidade é solicitada no cultivo à terra através da reza O fazendeiro poderia ser extraordinariamente agradado, O algodão não queimaria, e desagradaria o fazendeiro. Entre seus nomes encontram-se Jagun (Guerreiro; Caprichoso; Protetor de crianças abiku); Alajogun (Orixá da prosperidade; Protetor das casas e cidades) e Alapomoro (Aquele que realiza curas trabalhando com o axé de Ossaim: cura inclusive no plano das emoções e revela tendências para o ciúme).

Obaluaiê é estreitamente relacionado a Exu. Seu castigo, como o de Xangô, é considerado uma punição nobre. Assim, a morte de alguém por varíola não deve ser lamentada, mas, ao contrário, deve ser aceita com alegria e gratidão. Daí origina-se outro de seus nomes: Alápadúpé (O que mata e a quem devemos ser agradecidos por haver morto). Alguns anciãos dizem que Obaluaiê é irmão mais novo de Xangô. De fato o elemento fogo é comum às duas divindades, nas febres provocadas por Obaluaiê e no poder incendiador de Xangô. Esta crença leva os devotos de Xangô a considerarem-se imunes à fúria de Obaluaiê, e vice-versa: daí a expressão Não há dano que o irmão mais velho possa infligir aos filhos do irmão mais novo. Estes orixás são tão familiares entre si que, segundo narrações tradicionais, Obaluaiê refere-se frequentemente a Xangô, em tom de brincadeira, dizendo que quando este vai destruir uma única pessoa faz um enorme alarde, com extraordinários efeitos de luz e som (relâmpagos e raios), enquanto ele próprio destrói centenas de pessoas silenciosamente.

 

 

Lenda de Obalúwàiyé

 

 

Por prudência,é preferivel chamá-lo obaluaê,o “Rei,Senhor da Terra”ou Omolú,o “Filho do Senhor”.Obalúwàiyé Era um guerreiro terrível que, seguido de suas tropas, percorria o céu e os quatro cantos do mundo. Ele massacrava sem piedade aqueles que se opunham à sua passagem. Seus inimigos saíam dos combates mutilados ou morriam de peste. Assim, chegou Xapanã em território Mahí, no Daomé. A terra dos Mahis abrangia as cidades de Savalú e Dassa Zumê. Quando souberam da chegada iminente de Xapanã, os habitantes desta região, apavorados, consultaram um adivinho. E assim ele falou: "Ah! O Grande Guerreiro chegou de Empê! Aquele que se tornará o senhor do país! Aquele que tornará esta terra rica e próspera, chegou! Se o povo não o aceitar, ele o destruirá! É necessário que supliquem a Xapanã que os poupe. Façam-lhe muitas oferendas; todas as que ele goste: inhame pilado, feijão, farinha de milho, azeite de dendê, picadinho de carne de bode e muita, muita pipoca! Será necessário também que todos se prosternem diante dele, que o respeitem e o sirvam. Logo que o povo o reconheça como pai, Xapanã não o combaterá, mas protegerá a todos!"

Quando Xapanã chegou, conduziu seus ferozes guerreiros, os habitantes de Savalú e Dassa Zumê reverenciaram-no, encostando suas testas no chão, e saudaram-no: "Totô hum! Totô hum! Atotô! Atotô!" "Respeito e Submissão!" Xapanã aceitou os presentes e as homenagens, dizendo: "Está bem! Eu os pouparei! Durante minhas viagens, desde Empê, minha terra natal, sempre encontrei desconfiança e hostilidade. Construam para mim um palácio. É aqui que viverei a partir de agora!" Xapanã instalou-se assim entre os Mahis. O país prosperou e enriqueceu e o Grande Guerreiro não voltou mais a Empê, no território Tapá, também chamado Nupê.

Lendas Africanas dos Orixás de Pierre Fatumbi Verger e Carybé - Editora Currupio